quarta-feira, 31 de março de 2010

By Clarice Lispector

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.

Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.

Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.

E o que o ser humano mais aspira é tornar-se ser humano

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.

É difícil perder-se. É tão difícl que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo.

O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.

Porque há o direito ao grito.então eu grito.

Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro.

E se me achar esquisita,respeite também.até eu fui obrigada a me respeitar.

A palavra é meu domínio sobre o mundo

Não se conta tudo porque o tudo é um oco nada.

E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço.

Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim.

Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo.

Gosto do modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.

Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito.

Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus."

Saudade é um dos sentimentos mais urgentes que existem



"Dar a mão a alguém foi o que eu sempre esperei da alegria." ( Clarice Lispector)